quinta-feira, 1 de maio de 2014

Crônica do fã ao eterno herói!



Passaram-se 20 anos que ele nos deixou. Eu era um adolescente com 13 anos de idade. Foi o fim do ciclo de uma relação que iniciou em 1987. Foi brincando de autorama com um carrinho Lotus amarela. O meu amigo concorrente nas brincadeiras era “piquetista” e combatia comigo com um carrinho Williams de 1986.

Foi nessa época, com apenas 7 anos de idade, que despertava aos domingos bem cedo para acompanhar a Fórmula 1 pela televisão. Na disputa real, Nelson Piquet, o preferido do meu amigo do autorama, conquistava o tricampeonato naquele ano. À partir de 1988, os ventos sopraram para o meu lado.

Senna, guiando a melhor McLaren de todos os tempos, conquistara do primeiro título. Enquanto isso, no meu lar, ao poucos, conseguira influenciar a minha família, genuinamente futebolística, a acompanhar as corridas de Fórmula 1. Ah! E tão logo, no autorama, providenciei o super carrinho campeão da McLaren.

A passagem da minha infância à adolescência, foi de companhia inseparável da Fórmula 1 e dos famosos domingos de manhã. Não preciso mencionar que considerava o Prost um inimigo devido a rivalidade que ascendeu-se durante as disputas.

Principalmente após o desfecho lamentável da temporada de 1989, na famosa fechada de porta na chicane de Suzuka. Senna olhara inconformado para a pista depois daquela, inconformismo que se apegou em mim no restante daquela semana.

A conquista de 1990, embora uma ação de revanche, não foi legal! Talvez, tenha sentido decepção. O herói não precisava utilizar a mesma manobra desleal do inimigo. O sabor ficou amargo. Porém em 1991, a batalha com Nigel Mansell foi mais limpa e fantástica!

A última página daquela temporada teve um capítulo belíssimo na vitória de Berger quando Ayrton deixou passá-lo na última curva. Na ocasião, Berger, o fiel escudeiro mereceu aquele prêmio.

As vacas magras de 1992 foram duras, porém a fidelidade do amigo aqui permaneceu. Em 1993, mesmo sem o título e condições de vencer a batalha com a Williams de outro planeta, Ayrton transcendeu com as atuações mais marcantes.  
O ano de 1994, no melhor time e carro, as esperanças de um novo título renovavam. A temporada começou conturbada sem terminar as duas primeiras corridas. Porém, mesmo com todas as dificuldades, a sensação de que Ayrton conseguiria a primeira vitória logo e entrar de vez na briga pelo título com o Schumacher era exata.

Porém o GP de San Marino, no circuito de Ímola, começou pesada na sexta-feira. O susto do acidente grave sofrido pelo Rubens Barrichello. No sábado, foi forte a morte do austríaco Roland Ratzenberger. Este fato, já foi muito chocante! Até então, eu não havia presenciado uma morte na Fórmula 1. O clima estava horrível e esquisito.
Há vinte anos, naquele domingo de 1º de maio, perdi a hora da corrida! Algo que nunca  acontecia. Dormi demais! Acordei por volta das 10:15 da manhã. O despertar em meio ao susto, imediatamente liguei a TV.

Os carros saíram do grid com o Schumacher à frente. Ainda, sem saber que horas era e o que tinha acontecido, pensara que o Senna tinha sofrido algum problema com o carro e por isso teria perdido a largada. Engano meu! Logo, notei que a voz do Galvão Bueno na transmissão estava bem estranha.

O acidente já tinha ocorrido e naquele momento, o Senna estava sendo transportado para o hospital. Demorou alguns minutos para eu tomar ciência do horário e do acidente ocorrido. Não só tinha perdido a corrida.

O susto tomava conta de mim e iniciava um terrível pesadelo. Passou um tempo para acreditar que o acidente tinha realmente acontecido. Passaram 20 minutos da transmissão, quando vi pela primeira vez a cena do acidente na transmissão da TV. Automaticamente, comecei a chorar!

Pouco importava o que estava acontecendo na corrida que jamais deveria ter continuada. Naquele momento, aguardara com esperança, alguma boa notícia do Ayrton. Galvão Bueno conduzia com enorme dificuldade a transmissão.

A corrida terminou e a TV permaneceu ligada para acompanhar as notícias do hospital de Bolonha. Até que o Plantão da Globo soou como um péssimo sinal. Léo Batista confirmara, ao vivo, a morte cerebral de Ayrton Senna. Algumas horas depois, Roberto Cabrini, do hospital de Bolonha, confirmara o falecimento do Grande Ayrton Senna.

Aquele domingo seguiu com enorme tristeza. Lembro-me de ouvir na Rádio Jovem Pan, o clássico entre São Paulo e Palmeiras. Antes do apito inicial, o grito de Senna, das arquibancadas do estádio do Morumbi, ecoava. Ainda hoje, escuto aquele grito de torcida.
No dia seguinte, fui para a escola e decidi não assistir as aulas. Não conseguia!  Dias depois, fui ao cortejo, quando o corpo do Senna passou no vale do Anhangabaú, em São Paulo. Passei horas acompanhando na TV o velório na Assembleia Legislativa, as explicações dos peritos em acidente automobilístico e o enterro no Cemitério do Morumbi.
 
Ainda em 1994, assisti a corrida seguinte. O GP de Mônaco. Carregava uma esperança surreal! De que Senna saísse de algum lugar, de algum ponto das ruas de principado, como um toque de mágica, reaparecesse na corrida. Assisti da primeira até a última volta esperando por isso. Claro que ele não reapareceu. Minha esperança adormeceu e despertei para o choque de realidade.

Depois de Mônaco, não assisti mais as corridas de Fórmula 1, naquele ano. Assim como muitos, senti a necessidade de dar um bom tempo na Fórmula 1. Fui na contra mão da tendência de muitas pessoas que abandonaram as corridas.

Depois de algumas semanas, por gostar demais das corridas, passei a acompanhar com mais atenção, categorias que não assistia ou que assistia esporadicamente. Expandi para conhecer o mundo do esporte a motor.  Rompi as fronteiras da Fórmula 1.  É curioso como a “fuga” me fez enxergar o automobilismo de maneira bem ampla e diferente! Nesse aspecto, me fez muito bem! Voltei a acompanhar a Fórmula 1 regularmente, somente em 1996, com a ida de Jacques Villeneuve à Williams.

Muitos anos depois, tive um grande sonho com o Ayrton Senna. Neste sonho, chegava dentro de uma sala, bem iluminada. Ele estava com macacão de corrida, da mesma forma que víamos pela TV durante os GPs.

Tinha plena ciência no sonho de que Senna estava morto. Questionava-o de como aquilo era possível, ainda mais por que não tive oportunidade de conhecê-lo quando estava vivo! Ele apenas olhava para mim sem dizer uma palavra. Apenas, ele sorriu e me deu um abraço. Foi um dos sonhos mais lindos e o abraço mais eterno que recebi em toda a minha vida!

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